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134 ANTÓNIO MONTEIRO Na perspectiva da moral económica, a liberdade vem ainda apresentada como a fonte de moral que legitima a propriedade e a posse dos bens: «A propriedade privada ou um certo domínio sobre os bens externos asseguram a cada um a indispensável esfera de autonomia pessoal e familiar e devem ser considerados como uma extensão da liberdade humana. Finalmente, como estimulam o exercício da responsabilidade, constituem uma das condições das liberdades civis» 847 • Este mesmo critério da liberdade, como legitimante da pro– priedade e posse dos bens, vinha já nas duas redacções que prece– deram este texto definitivo 848 • Os próprios Padres se pronunciaram neste sentido. Entre eles, pode recordar-se a intervenção do Arce– bispo de Müchen, na Alemanha, Mons. J. Hõffoer, que sublinhou vincadamente a relação da liberdade com a propriedade 849 • A mesma relação foi repetidamente afirmada no magistério da Igreja, antes do Concílio. O próprio texto conciliar cita expressamente a «Rerum Novarum>> de Leão XIII 850 , a «Quadragesimo A111w», de Pio XI 851 , diversas radiomensagens de Pio XII 852 e a «Mater et Magistra>> de João XXIII 853 • Diz este último na «Mater et Magistra:» «Como a experiência da história confirma, onde os regim.es dos povos não reconhecem aos homens a propriedade privada, ali é violada ou destruída a liberdade humana, nos aspectos mais fundamentais» 854 • Trata-se, como é claro também. aqui, de uma perspectiva aberta– mentt: contrária àquela que defende o marxism.o. Para Marx a propriedade, não só não é princípio de liberdade, mas é antes instrumento de dominação e de opressão do homem sobre o homem. 855 • Nesta sua visão, o texto conciliar não faz senão seguir o que tem sido sempre o ensino tradicional da Igreja. 847 G. S., n. 71. 848 Co11stit11tio pastora/is, pars II, cap. III, n. 83, Acta IV, I, p. 496; Schema co11stit11tio11is. pars II, cap. III, n. 75, Acta IV, VI, p. 512. 849 Acta IV, III, p. 289. 850 LEO XIII, Litterae Encyclicae «Rerwn Novamm», ASS 23 (1890-1891) 643-646. 851 Prns, XI, Litterae Encyclicae «Q11adragesi1110 Anno», AAS 23 (1931) 191. 852 Prns XII, N1mti11s radiop/1oniws infesto Pentecostes, AAS 33 (1941) 199; N11nti11s radiop/1011iws 1miuerso orbi dat11s, AAS 35 (1943) 17; N1mti11s radiop/1011iws quinto vertente amio ab i11itio praesenti bello orbi universo datus, AA S 36 (1944) 253. 853 IoANNEs XXIII, Litterae E11cyclicae «Mater et Magistra», AAS 53 (1961) 428-429. 854 IDEM, Ibidem, p. 427: «Rerum usus cemporum monmnenta testantur ubi populo– rum regimina privatis hominibus etiam bonorum fructuosorum possessionem non agnoscunt, ibi aut violari, ant omnino dcleri in praecipui5 rebus humanae libcrtatis usum». 855 K. MARX, Manoscritti, p. 236.

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